sábado, 2 de junho de 2012

E por falar em Hesse...


    Hermann Hesse é um dos escritores alemães mais queridos no Brasil. Há algumas teorias a respeito da popularidade do alemão de olhos tranqüilos no país que abrigou muitos de seus compatriotas. Eu me perderia se começasse a falar sobre cada uma delas. É comum que o primeiro contato com Hesse aconteça quando se lê sua obra mais conhecida, O Lobo da Estepe. Esse título é um daqueles que se atrelam ao vocabulário. Já virou nome de banda de rock e de peças teatrais. O autor de Sidarta, contudo, foi muito mais do que criador de títulos inesquecíveis.
   Não é tarefa fácil falar acerca da personalidade do “último dos românticos”. Eu o mentalizo na bela livraria onde iniciou uma comunhão mais íntima com os livros. O jovem encarregado da organização do acervo da loja imerso naquele mar de leituras, dividindo-se entre as obrigações do serviço e um mundo que era só dele. Surgem os primeiros escritos, tão jovens quanto ele. Quando aparece a oportunidade de viajar, ele parte. Visita o Oriente e já não é mais o mesmo. A grande catástrofe de 1914 não o deixa indiferente. Ele se dispõe a lutar, mas vai sem o ânimo suicida de tantos soldados que vivenciaram aquele triste acontecimento. Nos campos de batalha, sua compleição física frágil não é condizente com o fragor dos combates e ele serve à sua pátria cuidando de seus irmãos de armas feridos. A batalha mais sangrenta, porém, é a que atormenta a própria existência de Hesse: problemas familiares, perseguição política, acusação de traição... Ele desaba ante a tantos inimigos e vai se tratar. Busca refúgio na montanhosa Suíça, de onde nunca mais sairá. Nada mais o detém na Alemanha. A ascensão do Nazismo apenas reforça seu desejo de se manter afastado de seu lar espiritual.
   Observemos Hesse.






Nas fotos em que aparece escrevendo,pintando,desenhando, caminhando ou em família está bem evidente a introspecção de um homem que soube interpretar suas angústias e dar-lhes feições mais amenas. Ele via coisas que somente ele podia ver. Parecia estar mais atento ao que se passava em si mesmo do que ao seu redor. É só uma impressão: ele jamais ignorou os acontecimentos externos, e seus escritos provam isso. A grandiosidade de seu intelecto e a sensibilidade de sua alma é que exigiam dele uma atenção maior aos seus pensamentos, às releituras da realidade que ele fazia. Era-lhe impossível disfarçar sua natureza mística e hermética. Sempre enigmático, nascido numa cidadezinha em meio à floresta mais misteriosa da Europa e montanhês por opção, Hesse preferia lugares que o distanciavam das turbulências mundanas e o punham mais perto de si mesmo. O que quer que ele fizesse, estava constantemente em viagem( Fahrt).Uma viagem que talvez não tenha ainda terminado.

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