Hermann Hesse é um dos escritores
alemães mais queridos no Brasil. Há algumas teorias a respeito da popularidade
do alemão de olhos tranqüilos no país que abrigou muitos de seus compatriotas.
Eu me perderia se começasse a falar sobre cada uma delas. É comum que o
primeiro contato com Hesse aconteça quando se lê sua obra mais conhecida, O
Lobo da Estepe. Esse título é um daqueles que se atrelam ao vocabulário. Já
virou nome de banda de rock e de peças teatrais. O autor de Sidarta, contudo,
foi muito mais do que criador de títulos inesquecíveis.
Não é tarefa fácil falar
acerca da personalidade do “último dos românticos”. Eu o mentalizo na bela
livraria onde iniciou uma comunhão mais íntima com os livros. O jovem
encarregado da organização do acervo da loja imerso naquele mar de leituras,
dividindo-se entre as obrigações do serviço e um mundo que era só dele. Surgem
os primeiros escritos, tão jovens quanto ele. Quando aparece a oportunidade de
viajar, ele parte. Visita o Oriente e já não é mais o mesmo. A grande
catástrofe de 1914 não o deixa indiferente. Ele se dispõe a lutar, mas vai sem
o ânimo suicida de tantos soldados que vivenciaram aquele triste acontecimento.
Nos campos de batalha, sua compleição física frágil não é condizente com o
fragor dos combates e ele serve à sua pátria cuidando de seus irmãos de armas
feridos. A batalha mais sangrenta, porém, é a que atormenta a própria
existência de Hesse: problemas familiares, perseguição política, acusação de
traição... Ele desaba ante a tantos inimigos e vai se tratar. Busca refúgio na
montanhosa Suíça, de onde nunca mais sairá. Nada mais o detém na Alemanha. A
ascensão do Nazismo apenas reforça seu desejo de se manter afastado de seu lar
espiritual.
Observemos Hesse.
Nas fotos em que aparece
escrevendo,pintando,desenhando, caminhando ou em família está bem evidente a
introspecção de um homem que soube interpretar suas angústias e dar-lhes
feições mais amenas. Ele via coisas que somente ele podia ver. Parecia estar
mais atento ao que se passava em si mesmo do que ao seu redor. É só uma
impressão: ele jamais ignorou os acontecimentos externos, e seus escritos
provam isso. A grandiosidade de seu intelecto e a sensibilidade de sua alma é
que exigiam dele uma atenção maior aos seus pensamentos, às releituras da
realidade que ele fazia. Era-lhe impossível disfarçar sua natureza mística e
hermética. Sempre enigmático, nascido numa cidadezinha em meio à floresta mais
misteriosa da Europa e montanhês por opção, Hesse preferia lugares que o
distanciavam das turbulências mundanas e o punham mais perto de si mesmo. O que
quer que ele fizesse, estava constantemente em viagem( Fahrt).Uma viagem que talvez
não tenha ainda terminado.
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